terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Grau 19 – Grande Pontífice ou Sublime Escocês (REAA)




As alegorias do grau

O Grande Pontífice ou Sublime Escocês é o título do Maçom que é elevado ao grau 19. A evocação de que “o último combate da luz contra as trevas, do bem contra o mal e o da verdade contra o erro está travado” e que a “Pedra Cúbica se transmuta em Rosa Mística e a Palavra Perdida foi recuperada”, significam que o iniciado terminou a sua escalada pelos graus da Perfeição e Inefáveis e está agora apto a começar uma nova jornada pelos graus filosóficos [1].

Além da alegoria dos Doze Trabalhos de Hércules, já comentados no capítulo anterior, o Irmão irá também entrar na Jerusalém Celeste, onde lhe serão reveladas as fórmulas mágicas da Arquitectura maçónica, consubstanciadas nas doze virtudes simbolizadas pelos doze bairros da cidade sagrada.

Nela o Irmão encontrará também a Árvore da Vida, símbolo do fluxo energético que dá vida ao Cosmos.

Catábase e Anábase

Os Doze Trabalhos de Hércules são a porta de entrada nos mistérios dos graus filosóficos da Maçonaria Escocesa, da mesma forma que o eram nos Mistérios Gregos. A simbologia do mito de Hércules, como já se disse, encerra um grande conteúdo filosófico. Em primeiro lugar releva-se o facto de que o herói se precisa iniciar nos Mistérios de Elêusis para aprender “a entrar e sair do mundo dos mortos”. Nesta prática está resumida a mais profunda lição do ensinamento iniciático que é a catábase, (a morte simbólica, a descida ao túmulo, à volta ao estado inicial de matéria amorfa, o mergulho no subconsciente), e a anábase, que é a subida, a ascensão, o voo para a luz, a ressurreição, a aquisição de um estado superior de consciência, o autoconhecimento, conforme expresso no Oráculo de Delfos, e que se constitui na máxima que resume toda a arte da filosofia: “conhece-te a ti mesmo” [2].

Por isto, a tarefa hercúlea, representada pela descida do herói aos infernos, para ali recuperar os seus amigos, ainda vivos, é bastante significativa. Este é, efectivamente, o trabalho do iniciado, a tarefa daquele que, através da iniciação nos Mistérios, encontrou o autoconhecimento e aprendeu a entrar e sair do mundo da inconsciência, onde medram todos os monstros, fantasmas e demónios, que constantemente sobem à superfície para nos desviar dos nossos caminhos. Esta também foi à missão de Jesus, por isso ele entrou e saiu do mundo dos mortos para dar ao homem uma esperança de redenção. Este é profundo significado desenvolvido em todas as tradições religiosas que possuem os seus Mistérios [3].

Dante também desceu aos infernos ainda vivo e de lá retornou com a Gnose da vida e da morte. Neste sentido, a Divina Comédia é um fantástico poema iniciático, no qual se transmite não só a escatologia desenvolvida pela Igreja Católica na sua doutrina, como também recupera e promove a interacção do Cristianismo com a mitologia grega, a sabedoria árabe, tradições gnósticas e mitos herméticos. O esoterismo de Dante já foi muitas vezes associado à Maçonaria. Nós o temos como um dos precursores do grupo rosa-cruciano que deu à Maçonaria especulativa muito material para o desenvolvimento da filosofia dos graus aeropagitas.

Neste sentido, o genial poema de Dante é um verdadeiro tratado escatológico que tem como fim “iniciar” o leitor nos mistérios da vida e da morte, doutrinando-o sobre a forma ideal de viver, bem como mostrar-lhe a verdadeira crença, que na opinião do poeta, era o catolicismo romano. A Divina Comédia é um poema gnóstico da mais alta envergadura, da mesma forma que os Doze Trabalhos de Hércules, e por isso eles são dois momentos singulares dentro do ensinamento maçónico [4].

É para isso que serve a prática iniciática, e esta é também a função da verdadeira fé. Os iniciados devem estar dispostos a arrostar mesmo os perigos do inferno quando se tratar de socorrer, de resgatar os seus irmãos que estiverem lá acorrentados e que pelas suas próprias forças não se conseguem libertar. E não pode temer os monstros que encontrará, ou os perigos que terá que enfrentar, nem as dificuldades que terá que superar. E como o herói da lenda, muitas vezes terá que conviver com a decepção de ter que devolver aos infernos os troféus que de lá resgatou. É que o destino das pessoas e o controle dos acontecimentos não estão, na verdade, nas mãos dos homens, mas pertence unicamente ao Grande Arquitecto do Universo. Mas, ainda assim, o herói, como o Maçom, jamais poderá furtar-se de cumprir a sua missão, pois para essa tarefa foi escolhido, para isso foi submetido a uma iniciação.

Mas os Doze Trabalhos de Hércules têm outros significados que é preciso destacar. Na simbologia do grau 19 eles representam as 12 estrelas que ornam o céu maçónico representado na Loja, que é o Templo da Razão. Estas estrelas, que representam o Zodíaco intelectual também simbolizam virtudes éticas, intelectuais e morais. São elas a Humildade, a Persistência, a Religiosidade, a Espiritualidade, a Racionalidade, a Flexibilidade, a Tolerância, a Adaptabilidade, a Legalidade, a Unicidade (das leis), a Honestidade e a Organização. Estas são, no ensinamento do Grau, as virtudes que conduzem uma sociedade ao apogeu da civilização. Por isso, a meta do ensinamento dos graus filosóficos é proporcionar aos Irmãos a aquisição dessas virtudes [5].

Um grande erro que algumas Lojas maçónicas têm cometido, na nossa opinião, é o facto de que para atender a objectivos simplesmente profanos, como o são os interesses políticos e pessoais dos seus membros, essas Lojas têm admitido nos seus quadros pessoas não qualificadas para perseguirem os objectivos da Ordem.

Estas pessoas entram para a Maçonaria, mas jamais alcançam, ainda que subindo todos os graus da Escada de Jacob, os verdadeiros objectivos da Irmandade. É que a Verdade da Maçonaria não está nos rituais, mas nos símbolos e nas alegorias das quais eles se utilizam para veicular os seus ensinamentos. Desde que Anderson e o seu grupo empreenderam a tarefa de transformação da antiga Maçonaria especulativa, simbólica e iniciática, numa sociedade formal, com o objectivo, a nosso ver, exotérico, de integrar os mistérios das antigas religiões com a filosofia iluminista e a sua ideia de progresso, a poderosa corrente de pensamento que fluía dos seus quadros começou a ser conspurcada por objectivos meramente profanos e ideológicos. A Maçonaria deixou as Lojas de Companheiros, onde congregava “obreiros úteis e dedicados”, para ganhar os salões luxuosos da nobreza, onde a cortesia e a sensibilidade dos “homens de espírito esclarecido, costumes morigerados e humor agradável”, foi confundido com a galanteria concupiscente dos cortesãos. É a esta “Maçonaria de salão” que a Rainha Maria Antonieta, e também Napoleão Bonaparte, se referiram nos seus desdenhosos comentários [6].

Nos tempos actuais a situação não parece diferente. O próprio pedido que é feito ao Grande Arquitecto do Universo para que “enriqueça as colunas” da Ordem com obreiros úteis e dedicados não tem sido atendido devidamente pelos próprios membros da Confraria, que cooptam pessoas mais por amizade pessoal, interesse social, financeiro ou político, fazendo de algumas Lojas mais um clube de lazer, ou um partido político, do que propriamente uma sociedade de pensamento, destinada a promover a construção moral do individuo e o aprimoramento ético da sociedade.

Não é demais lembrar que clubes de serviço, tais como os Lions e Rotarys foram fundados no seio da Maçonaria, para servirem de “braços sociais” da Ordem nos seus objectivos filantrópicos. Desta forma não vemos por que a Maçonaria, enquanto sociedade de carácter iniciático, deveria praticar filantropia. Aos maçons que propugnam por uma maior actividade dos irmãos nesse sentido, sugerimos que entrem para um desses clubes de serviço, cuja competência nesse sector já foi sobejamente demonstrada. A nós se afigura que a Maçonaria deveria voltar às suas velhas origens, actuando como sociedade de pensamento, pesquisando todas as tendências do espírito moderno e ofertando à sociedade uma crítica judiciosa, ponderada e isenta de qualquer preconceito. Neste sentido as Lojas actuariam como verdadeiros“ filtros” onde o pensamento seria purificado dos males que o vício, a intolerância, a cupidez, a ambição desmedida e a imoralidade acarreta aos nossos espíritos.

É uma pena que isso esteja acontecendo, pois assim se perde uma ideia que tem sido desenvolvida ao longo dos séculos e pela quais muitas vidas e consciências já foram sacrificadas. É preciso pensar em melhorar a qualidade dos Obreiros da Arte Real e não simplesmente aumentar o seu número. Nisso, como em toda prática iniciática, é de bom alvitre relembrar a velha lição: o verdadeiro conhecimento, quando é compartilhado com pessoas indignas dele, se abastarda e se corrompe. Sendo facto histórico torna-se mito sem conteúdo; se filosofia ou ciência, torna-se rito vazio e sem propósito, praticado apenas como uma grosseira imitação da verdade.

Aos maçons de espírito esclarecido cabe observar esst facto. Embora não exista hoje, qualquer mistério na Maçonaria oficial, e mesmo que a antiga tradição tenha sido enfraquecida pela inclusão, nos rituais, de diversos temas mais apropriados às salas de aula de uma universidade qualquer, é ainda nas Lojas maçónicas que poderemos encontrar o velho espírito das sociedades secretas e a sua aura de misticismo, que ainda funciona como um poderoso emulador para os espíritos mais sensíveis. É preciso que este clima não se perca com disputas mesquinhas e proposituras mais apropriadas aos objectivos de agremiações políticas de baixa envergadura e escusos objectivos, mas não à Maçonaria propriamente dita.

O Apocalipse

A influência gnóstica existente neste grau pode ser percebida já de início, pelo facto de o grau se utilizar da simbologia do Apocalipse. Aqui estamos diante de uma iniciação nos mistérios do Livro das Revelações, mistérios esses que foram revelados ao Apóstolo João, quando ele esteve exilado na ilha de Patmos. O Apocalipse é um livro de clara inspiração gnóstica, que reflecte também profundas influências cabalísticas, demonstrando que o autor, se não era um rabino, pelo menos tinha profundo conhecimento do pensamento esotérico judeu que se tornou fonte da Cabala [7].

Mas não somente com tradições esotéricas e ensinamentos gnósticos e cabalísticos foi composto este fantástico livro. Ele é também uma crónica rigorosamente exacta da sociedade e dos acontecimentos da época, pois reflecte o conflito entre os primeiros cristãos e as autoridades romanas, especialmente nos tempos dos imperadores Nero e Domiciano, épocas em que as perseguições contra os cristãos foram mais violentas [8].

A autoria do Apocalipse é atribuída ao Evangelista São João. Dificilmente, porém, seria o mesmo João, o apóstolo amado de Jesus, que segundo uma tradição desenvolvida a partir de uma enigmática conversa entre ele e os seus apóstolos, continuaria vivo até que ele voltasse. O verdadeiro autor do Apocalipse, provavelmente, é um filósofo gnóstico que adoptou este nome justamente para fugir à perseguição que sem dúvida atrairia sobre si e as pessoas a quem destinava esse trabalho [9].

O Apocalipse foi escrito como sendo uma revelação obtida através de uma visão que o autor teve quando esteve confinado na ilha de Patmos. Já por essa informação se infere que se tratava de um prisioneiro, provavelmente condenado em razão das suas crenças religiosas. Foi escrito em forma de uma mensagem dirigida às sete igrejas do continente, a saber, Éfeso, Esmirma, Pérgamo, Tiatira, Sardis, Filadélfia e Laodicéia. Estas eram cidades da Palestina, Itália e Ásia Menor, onde os evangelistas, principalmente Paulo de Tarso, tinham fundado colónias cristãs que se encontravam em franco desenvolvimento. Eram cidades chaves no mundo romano, pois se tratava de sedes administrativas ou capitais de províncias do Império Romano.

O Apocalipse é uma obra, que da mesma forma que defende a primazia do Cristianismo e do Cristo sobre as demais religiões e deuses do Império Romano, também evoca um sentimento de vingança contra Roma pela derrubada do Templo de Jerusalém, a destruição do estado judeu e a dispersão do seu povo pelos territórios do Império [10].

A esperança descrita neste trabalho revela, ao mesmo tempo, uma face esotérica, representada pela vitória do Cristianismo e o triunfo do Messias, e uma face política, marcada pela ressurreição do reino de Israel a partir das suas bases cristãs.

Neste sentido, o que o autor faz é recompor, de uma forma dramática, simbólica e com um profundo sentimento místico, o “reino da justiça, da ordem, e da harmonia”, que os ímpios romanos destruíram, com a extinção da pátria judaica e a execução do Messias cristão. Este reino, representado pela Nova Jerusalém é, a um só tempo, material e espiritual. Não foi, portanto, sem razão, que este livro exerceu tamanho fascínio nos estudantes da filosofia oculta nos anos que antecederam o desenvolvimento da Maçonaria moderna, o que justifica o largo uso que dele se faz na composição do catecismo maçónico dos graus filosóficos.

A Jerusalém Celeste

A decoração do Templo, no grau 19, inclui uma tela de formato quadrado, representando uma cidade. Esta cidade simboliza a Jerusalém Celeste com três portas de cada lado, tendo no centro a Árvore da Vida, que produz doze frutos diferentes. A Jerusalém Celeste é a cidade que parece baixar do céu, mostrada no painel do grau. Ela é também o Templo da Verdade ou o Templo da Razão. A sabedoria buscada neste grau é o apostolado da razão. Por isso, a pergunta básica do grau: “ Que seria dele (o homem), apesar da consciência e da inteligência, sem a Razão? Viveria perpetuamente no erro e só a casualidade lhe proporcionaria algum progresso.”

A Jerusalém Celestial tinha “um muro alto e grande com doze portas; e nas portas doze anjos, e uns nomes inscritos, que são os nomes das doze tribos de Israel”.

Também no painel da Loja do Aprendiz há uma escada (arcano-alquímica) elevatória, que representa o símbolo da auto perfeição. Ela é a Escada de Jacob, que sobe do piso da Loja e serpenteia elipticamente pelos doze signos zodiacais. Entre as alegorias que sedimentam os ensinamentos do grau 19, parece-nos que a de maior importância é a Árvore da Vida, razão pela qual esse símbolo será discutido em capítulo próprio.

No ritual do grau 19, a Jerusalém Celeste é o símbolo correspondente ao Éden bíblico e ao Reino de Deus pregado por Jesus. Neste reino mítico, só entrarão os “eleitos”, ou seja, não os espíritos que foram julgados puros no Juízo Final, mas sim, aqueles que serão os representantes, perante Deus, da nova humanidade. O Apocalipse diz que serão 144.000 mil “eleitos” [11].

Neste sentido, a Jerusalém Celeste também é uma utopia, a utopia dos cristãos. Daí o facto das suas “portas” e “caminhos”, serem tratadas como alegorias de fundo ético-moral, conotativas de virtudes e qualidades que um Maçom deve adquirir para fazer parte deste grupo de “eleitos”.

João Anatalino Rodrigues

Fonte

  • Do livro “Mestres do Universo” – Biblioteca 24×7 – 2010

Notas

[1] Os graus da Loja de Perfeição vão do 4º ao 14º. De 15º ao 18º temos a Loja Capitular. Nestes três últimos graus, e principalmente no 18º, as alegorias trabalhadas são essencialmente ligadas à prática alquímica e à tradição rosa-cruz. Por isso é que ao ser elevado ao grau 19º, o iniciado é “alguém que contemplou a Rosa Mística e encontrou a Palavra Perdida”, pois estas  são-lhe apresentadas no grau 18º.

[2] Veja-se no capítulo anterior, o décimo primeiro trabalho de Hércules.

[3] Em toda a saga heróica está presente o combate contra “monstros e gigantes”, que significa a luta do iniciado contra os vícios que dominam o espírito humano. Nas iniciações antigas sempre eram simulados combates do iniciado contra instrutores disfarçados de monstros e animais.

[4] Escatologia é a doutrina que trata da consumação do tempo e da história, especulando sobre os fins últimos da vida do homem sobre a terra. Para maiores referências e a conexão da Divina Comédia com a Maçonaria, veja-se o capítulo XV.

[5] Estas doze virtudes também simbolizam os doze apóstolos de Cristo, no sentido de que a doutrina cristã, tem neles as suas colunas mestras.

[6] Maria Antonieta, segundo diz Ambelain, teria comentado com a sua mãe, a Imperatriz da Áustria, que na França todo mundo era Maçom, denotando, com isso, que a Arte Real, nos anos que antecederam a Revolução Francesa, tinha sido popularizada de tal forma que não poderia ser levada a sério. Por isso mesmo é que Napoleão, conforme diz Jean Palou, também se referira aos maçons como “pessoas que gostam de brincar” de cavaleiros.

[7] Não se descartam também as influências herméticas que aparecem ao longo do texto do Apocalipse, referentes a pedras e outras alegorias ligadas ao simbolismo alquímico. Todavia, considerando que a alquimia só se desenvolveu no Ocidente a partir do século XII, é mais provável que o Apocalipse tenha influenciado a linguagem alquímica e não o contrário.

[8] Nero, que governou Roma de 54 a 68 A.C. foi o primeiro imperador a perseguir sistematicamente os cristãos. Diz-se que ele incendiou os bairros pobres de Roma e culpou os cristãos por isso, dando justificativa para os decretos que expediu contra eles. Já a era de Domiciano (81-96), ficou conhecida como a “Era dos Mártires”, pela grande quantidade de cristãos que foram chacinados no seu governo.

[9] Acreditamos que João, o autor do Apocalipse seja, na verdade, um rabino convertido ao Cristianismo, ou um essénio que escapou da chacina promovida pelos romanos na guerra judaico-romana de 66-70. A inspiração gnóstica é evidente em todo o transcorrer do trabalho e é visível também o conhecimento que o autor demonstra ter da Cabala. Ressalte-se que na mesma época em que o Apocalipse estava sendo escrito, o rabino Simão Ben Iohai estava começando o seu trabalho de compilação e explicação dos textos cabalísticos.

[10] Esta dispersão aconteceu no ano 70 da era cristã, com a invasão de Jerusalém pelas tropas romanas e ficou conhecida como Diáspora.

[11] Ou seja, 12.000 x12, número cabalístico por excelência.


 

Grau 18 – Soberano Príncipe Rosa-Cruz 25/08/2021



Avental do grau 18


A Maçonaria templária

O Rito Escocês (REAA) nos seus graus capitulares, termina com o grau 18, que é denominado Soberano Príncipe Rosa-Cruz, ou Cavaleiro da Rosa-Cruz, como é chamado este grau na Maçonaria do Arco Real. Este grau foi introduzido nos ritos maçónicos pelos “maçons jacobitas”, como eram conhecidos os membros da Grande Loja de Inglaterra, que apoiaram os descendentes da dinastia dos Stuarts na sua pretensão de recuperar o trono inglês, perdido em razão da chamada Revolução Gloriosa. [1]

Os conflitos que dividia  a sociedade inglesa nas questões políticas causaram também a divisão dos maçons, uns apoiando as pretensões stuartistas, outros defendendo os hanoverianos, como eram chamados os partidários do príncipe Guilherme de Orange. Enquanto os hanoverianos se reuniam na chamada Grande Loja, praticando apenas os graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) os stuartistas criavam o chamado Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA), introduzindo o que hoje conhecemos como Ritos Superiores, que incluem a Loja Capitular, os Graus Filosóficos e os Graus Administrativos.

Através das chamadas Lojas Militares, fundadas pelos stuartistas, as tradições templárias entraram na Maçonaria. Segundo Baigent e Leigh (O Templo e a Loja , Madras, 2006), o Barão Hundt foi o primeiro Maçom a reivindicar a herança templária através do rito que ele fundou, o Rito da Estrita Observância. Este rito, embora seja praticado ainda hoje em diversas Lojas da Alemanha, não conseguiu fazer muitos adeptos e logo foi eclipsado por outros ritos.

Seria, entretanto, este ramo stuartista de Maçonaria que propagaria a Maçonaria de tradição templária pelo mundo e dela sairia, mais tarde, a Maçonaria do Arco Real, que viria a ser a principal denominação maçónica na América do Norte. Esta Maçonaria, fortemente alicerçada em tradições templárias, é aquela praticada nos chamados graus superiores do Rito Escocês, especialmente nos graus filosóficos, ou kadosh, e graus administrativos ou areopagitas.

As três vertentes da Maçonaria moderna

A chamada Maçonaria especulativa é a formula que surgiu da interacção entre as três grandes tradições que sobreviveram da cultura medieval, ou seja, a cavalaria, a tradição hermética e arquitectura. A cavalaria entrou com os motivos éticos e morais que nortearam aquela instituição, ligados principalmente aos exércitos cruzados, com ênfase especial nos cavaleiros templários, os cavaleiros do Hospital de São João de Jerusalém e os cavaleiros teutónicos, estes últimos ligados principalmente aos povos germânicos.

Quanto à arquitectura, é sabido que a base da pratica maçónica assenta sobre a tradição dos pedreiros livres, assim chamados os arquitectos e mestres de obras medievais, responsáveis pela construção dos grandes edifícios que ainda hoje encantam os olhos dos turistas por todo o mundo antigo. Estes profissionais, a par da ciência que praticavam, colocavam na sua profissão um carácter de sacralidade, que fazia dela uma verdadeira arte iniciática. Daí o carácter místico que lhes é atribuído e a profunda identificação com o pensamento que viria, já no século XVI, desembocar na chamada Maçonaria especulativa.

Quanto ao hermetismo, essa tradição foi inserida na prática maçónica através dos pensadores do chamado círculo da Rosa-Cruz. Este círculo abrigava uma plêiade de filósofos e praticantes de alquimia, os quais, em virtude da sua prática e da sua forma de viver e de pensar, eram hostilizados pela Igreja Católica.

Historicamente, sabe-se que a Rosa-Cruz, como instituição organizada, nunca existiu antes do século XX. Como entidade, hoje conhecida mundialmente pelo seu carácter filantrópico, filosófico e humanístico, a Rosa-Cruz (AMORC) foi fundada em 1915, em Nova Iorque. Mas como tradição, dedicada ao estudo e disseminação do pensamento filosófico-místico, ela existe como movimento desde os primórdios do século XVII, quando alguns alquimistas alemães, liderados por Johan Valentin Andreas, lançaram três curiosos manifestos, chamados Fama Fraternitatis, Confessio Fraternitatis Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz, todos assinados por um personagem misterioso personagem chamado Christian Rosenkreuz, provavelmente um pseudónimo utilizado por Andreas, o líder desse movimento.

Estes manifestos reflectiam as questões religiosas e políticas que sacudiam a Europa naquele momento. Era a época da Reforma Protestante e da formação dos estados nacionais, envolvendo intensas disputas dinásticas, que ensanguentavam todo o Velho Continente.

As pesquisas de Serge Hutin e Frances Yates mostram o quanto os pensadores do circulo rosacruciano estivam envolvidos com as questões políticas e religiosas da época. E também com as diversas casas reais da Europa. O próprio Andreas, como apontam essas pesquisas, mantinha uma relação muito estreita com os príncipes alemães do Palatinado e com a família Guise, esta última ligada por laços de casamento à família dos Stuarts, então soberanos da Inglaterra. [2]

A Maçonaria especulativa, como se sabe, tem profundas ligações com os escoceses, desde a época dos Bruces, quando o rei Robert Bruce, ajudado por vários cavaleiros templários, conseguiu libertar a Escócia do domínio da Inglaterra. Foi este rei que fundou a Ordem dos Cavaleiros de Santo André do Cardo, para dar abrigo, na Escócia, aos proscritos cavaleiros templários que estavam sendo perseguidos pela Inquisição, em toda a Europa. Esta Ordem de cavalaria é constantemente lembrada como sendo um dos núcleos da Maçonaria especulativa, da mesma forma que, dois séculos mais tarde, a Royal Society inglesa seria o núcleo inglês da Maçonaria moderna.

A ideia que informa a Maçonaria moderna é, na sua face espiritualista, claramente uma inspiração rosa-cruciana. Foram os pensadores do círculo rosa-cruz que lançaram nos seus manifestos a ideia de “uma transformação no mundo da política e do pensamento”, a qual seria feita através da aplicação dos “segredos” que eles possuíam. Esta transformação traria uma “nova época de liberdade espiritual, na qual a humanidade seria libertada dos grilhões que lhes eram impostos pela Igreja Católica”. [3]

O homem que nasceria deste novo sistema seria um “homem novo”, religioso a sua maneira, mas informado pela verdadeira ciência e educado na filosofia que, naquele momento, estava encantando todos os intelectuais da época: o Iluminismo. Era esse homem “ de gostos morigerados, humor fino, educado nas ciências e nas artes”, como disse o Cavaleiro de Ramsay, que conduziria a humanidade ao seu glorioso destino. [4]

Este pensamento, como vimos, era o pensamento dos rosacrucianos. Foi disseminado em vários trabalhos publicados por notáveis pensadores e famosos alquimistas, que deixaram o seu nome na história. Esta tendência filosófica aparece nos trabalhos de John Milton, Francis Bacon, Marcilio Ficcino, Giordano Bruno, Voltaire, Thomas Morus e outros criadores de utopias políticas e literárias. Está presente também nas obras de diversos alquimistas como Nicolas Flamel, Teofrastro Paracelso, Van Helmont, Blaise Viginére, Françóis Rabelais  e outros. [5]

Na Maçonaria moderna a influência Rosa-Cruz aparece principalmente no grau 18 do Rito Escocês, denominado Soberano Príncipe da Rosa-Cruz, também conhecido como o Cavaleiro do Pelicano e Cavaleiro da Águia Branca, títulos esses que evocam as duas principais tradições que são contempladas neste grau, ou seja, a alquimia, simbolizada nas alegorias da procura da Palavra Perdida, o  Mito da Fénix e a Lenda do Pelicano, e as alusões aos princípios defendidos pela instituição da cavalaria.

O Mito da Fénix

No moderno ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito, o Mito da Fénix é uma alegoria que aparece no grau dezoito, consagrado ao Cavaleiro da Rosa-Cruz. Por se tratar de uma alegoria essencialmente alquímica, ela integra a tradição hermética da morte ritual do adepto e do seu renascimento em outro nível de consciência. Isto era o que os alquimistas acreditavam poder fazer com o material trabalhado nos seus laboratórios, “matando” a sua estrutura de metal comum (chumbo, estanho) e “ressuscitando-o com a estrutura de um metal nobre (ouro, prata). E se assim era com os metais, isto também poderia ser feito com os seus próprios espíritos.

No ritual do grau 18, diz-se que o recipiendário “perdido nas trevas, na encruzilhada dos caminhos, perto do total abatimento e da morte, ouve uma voz misteriosa saída do fundo da sua alma”. (palavras do ritual do grau). É nesse momento que ele reencontra a Palavra Perdida, oculta sobre as asas da Fénix, no instante em que ela renasce das cinzas. A Palavra Perdida, aqui é chave do segredo do renascimento espiritual e a Fénix é o seu próprio espírito que se renova por conta dessa iniciação. E ele sente como se “um sopro o penetrasse, no momento em que murmura, afastando-se, a Palavra que para ele é a revelação de uma nova Luz.” E dali ele sai reanimado, renovado, porque agora sabe que a Palavra Perdida significa “ Igne Natura Renovatur Integra”. [6]

Ou seja, a natureza inteira renova-se pelo fogo, e essas palavras correspondem justamente às iniciais apostas sobre a cruz de Cristo (INRI). É nesse instante que ele tem a revelação final e fundamental do mistério contido na Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, ou seja, o verdadeiro significado desse mistério magno da cristandade.

Aqui se revela a tradição alquímica sendo aplicada no seu mais inspirado fundamento, ou seja, a de que a natureza produz a vida tirando-a da morte, da mesma forma que Deus fez o mundo tirando a luz das trevas e da mesma forma que Cristo, morto na cruz e ressuscitado ao terceiro dia significa a redenção para toda a humanidade. Assim, para que a vida se renove, é preciso a morte ritual do recipiendário, da mesma forma que a semente que dá vida precisa ser lançada à terra, para que, do fundo das trevas, fecundada pela água e pelo calor do sol, ela reviva e inicie a sua jornada em busca da luz.

Na Maçonaria o Mito da Fénix é invocado em toda a sua beleza iniciática para mostrar ao iniciado que natureza que se renova em toda a sua integridade, pela acção do fogo, que  aqui significa tanto o trabalho do alquimista no seu forno, cozendo e recozendo o material da Obra, quanto o baptismo cristão, conforme preconizado por João Batista, ou a ritualística iniciática. [7]

Todas são analogias que simbolizam a prática da doutrina renovadora da Maçonaria. E a Rosa Mística, centralizada no ponto de encontro dos braços da cruz é exactamente esse ponto crucial do universo, ou da alma humana, onde a Palavra Perdida é recuperada e faz nascer, da própria morte, a vida renovada. Aqui, a mística do ensinamento iniciático se alia à poesia para dizer ao espírito humano que existe uma esperança de vida, mesmo na mais sombria e aterradora das situações, que é a própria morte.

A tradição Rosa-Cruz diz que a luz do mundo morre e renasce no centro de uma cruz. Esta morte e renascimento eram comemorados pelos cavaleiros cruzados nas vésperas das sextas-feiras santas, em cerimónias que evocavam a última ceia de Cristo com os seus apóstolos, ocasião em que dividiam um carneiro. Neste significativo ritual promovia-se, não só uma evocação à Páscoa hebraica, mas também o retorno do sol no equinócio da Primavera, ocasião em que a natureza morta pela acção do Inverno, recomeça um novo ciclo. Esta era uma antiga tradição observada pelos gregos e egípcios por ocasião da celebração dos seus famosos “Mistérios”. Incorporada aos ritos templários, este mito foi cristianizado para simbolizar os próprios mistérios cristãos. E assim, Jesus, o Cristo, ressuscitado no terceiro dia após a sua morte, era a própria Fénix, que para a humanidade toda trazia a promessa da ressurreição. E por analogia, essa ressurreição aplicava-se ao iniciado Maçom após a sua elevação ao grau de Cavaleiro Rosa-Cruz.

A lenda do Pelicano

A Lenda do Pelicano é outra contribuição da tradição alquímica, trazida para a Maçonaria pelos rosa-crucianos. Conta uma lenda medieval que um pelicano saiu do seu ninho em busca de comida para os seus recém-nascidos filhotes. Não notou que por perto se escondia um predador, só esperando a sua ausência para atacar o ninho.

Mal o pássaro desapareceu no horizonte, o danado atacou os coitadinhos, que ainda não tinham aprendido a voar e nem a se defender.

O predador devorou a todos, só deixando como sobra as pequeninas ossadas com as penas que mal começavam a despontar.

Quando o papai pelicano voltou ao ninho viu a tragédia que ocorrera. Atirando-se sobre os corpos dos filhos chorou horas e horas, até que as suas lágrimas secaram.

Sem mais lágrimas para chorar pelos filhos mortos, começou a bicar o próprio peito, fazendo verter sobre o corpo dos pequeninos o sangue que jorrava dos ferimentos que ele mesmo provocara com aquela mutilação.

No seu desespero não percebeu que as gotas do seu sangue, pouco a pouco iam reconstituindo a vida dos seus filhos mortos. E assim, com o sangue do seu sacrifício e as provas do seu amor, a sua família ressuscitou. [8]

Provavelmente foi a partir desta lenda que o pelicano se tornou um símbolo de amor e sacrifício. Durante a Idade Média eram vários os contos e tradições em que esse pássaro aparecia como representação da piedade, do sacrifício e da dedicação à família e ao grupo ao qual se pertencia. Esta terá sido também, a razão de os cátaros, os Rosa-Cruzes, os alquimistas e outros grupos de orientação mística o terem adoptado nas suas simbologias.

Para os alquimistas o pelicano era um símbolo da regeneração. Alguns operadores alquímicos chegaram inclusive a fabricar os seus atanores – vasos em que concentravam a matéria prima da Obra – com capitéis que imitavam um pelicano com as suas asas abertas. Tratava-se de captar, pela imitação iconográfica, a mesma mágica operatória que a ave possuía, ou seja, aquela capaz de regenerar, com o seu próprio sangue, os filhotes mortos.

Os Rosa-Cruzes, na sua origem, na sua maioria eram alquimistas. Daí o facto de terem adoptado o pelicano como símbolo da capacidade de regeneração química da matéria não é estranho. E é compreensível também que nas suas imaginosas alegorias eles tenham associado esta simbologia com aquela referente ao sacrifício de Cristo, cujo sangue derramado sobre a cruz era tido como instrumento de regeneração dos espíritos, medida essa, necessária para a salvação da humanidade. Daí o pelicano se tornar também um símbolo cristão, representativo das virtudes rectificadoras do cristianismo, da mesma forma que a Rosa Mística e a Fénix que renasce das cinzas

A Maçonaria adoptou a lenda do pelicano por influência das tradições Rosa-Cruzes que o seu ritual incorporou. Por isso é que encontraremos, no grau 18, grau Rosa-Cruz por excelência, o pelicano como um dos seus símbolos fundamentais. O próprio título designativo desse grau é o  de Cavaleiro do Pelicano ou Cavaleiro Rosa-Cruz.

O simbolismo do pelicano é uma alegoria que integra, ao mesmo tempo, a beleza poética da lenda, o apelo emocional do mistério alquímico e o romanticismo do sacrifício feito em nome do amor. Pois tanto o Cristo quanto a natureza amorosa vertem o seu sangue para que os seus filhos possam sobreviver.

Eis aí, em toda a sua beleza simbólica, o conteúdo místico-filosófico do Grau 18, o Cavaleiro da Rosa-Cruz. Que os Irmãos possam apreciar este simbolismo com todo o fervor do seu espírito.

João Anatalino Rodrigues

Notas

[1] Guerra entre a dinastia Stuart e o Parlamento, que resultou na deposição e execução do Rei Charles I. A Revolução Gloriosa reconstituiu a monarquia inglesa, com o Parlamento oferecendo a coroa ao Príncipe Guilherme de Orange, da  Holanda.

[2] Frances Yates – O Iluminismo Rosa Cruz – Cultrix, 1967. Ver também João Anatalino, Conhecendo a Arte Real – Madras, 2006.

[3] Fama e Fraternitates, citado por Frances Iates op. citado.

[4] André Michel de Ramsay (1686 – 1743) foi um dos fundadores da Maçonaria moderna. É conhecido pelo seu famoso discurso no qual ele define a Maçonaria como “uma grande republica, disseminada pelo mundo inteiro, informada pelo princípio da ética, da moral, pela prática das ciências e das artes, e constituída por homens de gosto refinado e costumes morigerados. Sua origem seria, segundo informa, a interacção ocorrida na época das cruzadas entre os profissionais da construção e os Cavaleiros do Hospital de São João, razão pela qual as lojas maçónicas se chamavam Lojas de São João. Ver, a este respeito, a nossa obra “Conhecendo a Arte Real, citada. Ver também Jean Palou – Maçonaria Simbólica e Iniciática – Ed. Pensamento, 1986

[5] Conhecendo a Arte Real, citado. O Iluminismo Rosa-Cruz, citado.

[6] Cf. o Ritual do Grau

[7] “Eu na verdade, vos baptizo em água. Mas ele vos baptizará no Espírito Santo e no fogo“. João, 3:17

[8] João Anatalino – Mestres do Universo, Biblioteca 24×7-2011


 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O Grau 17 do REAA – “Cavaleiro do Oriente e do Ocidente” 24/11/2020



Avental do Grau 17 – Cavaleiro do Oriente e do Ocidente (REAA)

Núcleo histórico

O Grau 17, chamado Cavaleiro do Oriente e do Ocidente, não obstante o Ritual fazer referências aos essénios, aos temas do Apocalipse e outras tradições gnósticas e herméticas, é, na verdade, um grau que tem ligações  muito forte com os cavaleiros cruzados, especialmente os templários. O próprio título assim o sugere, uma vez que os cruzados eram, efectivamente, cavaleiros que vieram do Ocidente para estabelecer um reino cristão no Oriente. Este reino, com a sua capital em Jerusalém, durou quase dois séculos, desde a tomada de Jerusalém em 1099 pelos cruzados, até 1187, quando a cidade foi retomada pelos muçulmanos comandados por Saladino, sultão do Egipto. Neste período de domínio cristão na Terra Santa foram fundadas diversas ordens de cavalaria, sendo as três mais importantes, as Ordens dos Templários, dos Hospitalários e dos Cavaleiros Teutónicos. Cada uma destas Ordens legou importantes tradições à Maçonaria contemporânea, todas elas reproduzidas, de forma simbólica, nos ritos praticados actualmente.

A lenda cultivada no grau 17 do Rito Escocês Antigo e Aceito, embora apresente alguns absurdos históricos, não obstante, desenvolve alguns ensinamentos bastante interessantes. Diz esta lenda que após a tomada de Jerusalém pelos romanos, facto esse ocorrido no ano 70 da era cristã, alguns judeus fugiram para o deserto, dando origem à seita dos essénios. Trata-se, evidentemente de um grosseiro erro histórico, uma vez que os essénios já existiam antes mesmo de os romanos chegarem à Palestina, já que a origem dessa seita se situa no século II antes de Cristo, época em que Roma ainda estava lutando contra os cartagineses pelo controle do Mediterrâneo.

A lenda sugere que muitos dos símbolos e ensinamentos que fundamentam a ritualística e as tradições cultivadas nos graus filosóficos são inspirados nos costumes desta seita fundamentalista que, segundo crêem alguns historiadores, teria sido a inspiradora da doutrina ensinada por Jesus. Esta alusão aos essénios como uma importante fonte de influência da Maçonaria é correcta e já foi referida por nós noutros trabalhos já publicados neste site.

A lenda do grau diz também que a Ordem dos Templários foi fundada após o regresso dos cruzados da Terra Santa. Este também é outro equívoco, pois é facto sabido que esta Ordem  foi fundada durante o período de domínio cristão na Terra Santa, e tinha a sua sede na própria cidade de Jerusalém, nas ruínas do antigo Templo de Jerusalém, razão pela qual ela adoptou o nome de “Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo do Rei Salomão”. É possível que, neste caso, o ritual do grau se esteja referindo ás Lojas de Companheiros, nascidas da interacção entre cavaleiros templários e maçons operativos, que depois que os cruzados deixaram a Terra Santa, se multiplicaram pela Europa, dando origem às Lojas maçónicas modernas, como porém o ritual omite este pormenor, não temos como avalizar a sua historicidade;

O Apocalipse

O ritual também se refere constantemente ao Livro do Apocalipse, e utiliza vários dos seus simbolismos para veicular os ensinamentos do grau.

O Apocalipse é um livro essencialmente gnóstico e foi escrito por um filósofo que possuía profundos conhecimentos das doutrinas desses cultores do cristianismo místico. Possivelmente era um essénio, conhecedor dos métodos cabalísticos de interpretação da Bíblia, o qual, tendo conseguido escapar do massacre perpetrado pelos romanos aos membros daquela seita, adoptou a crença cristã e passou a emprestar à nova religião todos os seus conhecimentos [1].

O autor, que presumivelmente era um preso político confinado na ilha de Patmos, relata as suas visões a respeito do futuro da igreja que naquele momento se estava formando no mundo romano, decorrente das pregações dos cristãos, e sobre o destino do Império Romano e da própria humanidade. Escrito á maneira dos essénios, com larga utilização de símbolos, metáforas, analogias e metonímias, ele criou uma obra criptográfica digna dos mais competentes autores herméticos.

Esta forma de escrita era muito comum na época pois destinava-se a veicular teses, opiniões e mensagens políticas e religiosas combatidas pelo poder secular.

O Apocalipse é, na verdade, um libelo crítico e propagandístico. Veicula críticas contundentes ao Império Romano e as suas autoridades, ao mesmo tempo que procura demonstrar a superioridade do cristianismo sobre as demais crenças religiosas da época. Objectiva também demonstrar que Jesus Cristo era, realmente o Filho de Deus, e somente á ele cabia a missão salvadora da humanidade.

As teses desenvolvidas pelo autor do Apocalipse demonstram claramente que ele era adepto da filosofia gnóstica. A sua concepção acerca do “Cordeiro de Deus”, que tira o pecado do mundo, é uma alegoria que já tinha sido utilizada antes pelos essénios e outros pensadores gnósticos. Outra pista das influências gnósticas e cabalísticas do autor é a sua fixação em temas místicos, como os números sete e doze, que têm larga utilização na tradição cabalística e na própria simbologia da Bíblia.

É sabido que estes dois números, para místicos gnósticos e cabalistas eram números sagrados por natureza. O sete simbolizava a vitória do espírito sobre a matéria e a predominância do bem sobre o mal, e o doze era o símbolo da organização universal. Por isso sete são as igrejas para as quais ele escreve, sete os anjos que as identificam, sete são os castiçais que iluminam o Filho do Homem, sete são as estrelas na sua mão direita, sete selos no Livro do Cordeiro, etc. [2].

Da mesma forma, doze sãos as portas da Jerusalém Celeste, doze os discípulos do Cordeiro, doze as tribos de Israel, etc. [3].

A lenda do grau

A lenda do grau é desenvolvida com fulcro na alegoria dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse. Esta passagem consta do capítulo 6 desse estranho livro. Fala de um cavalo branco montado por um cavaleiro vitorioso que submetia todas as nações da terra. Este simbolismo referia-se ao exército romano, então invencível. Depois vinha um cavalo vermelho, conduzindo um soldado com uma espada tinta de sangue. Este cavaleiro simbolizava o próprio Império Romano, cujas conquistas eram geralmente sangrentas. Em seguida um cavalo preto vem conduzindo um cavaleiro com uma balança nas mãos, simbolizando a justiça romana, que dava mais valor aos tributos pagos pelos povos subjugados do que á vida dos seus cidadãos; por fim, um cavalo amarelo trazia no seu dorso um cavaleiro esquelético que simbolizava a Morte. Este cavaleiro dizimava uma quarta parte da população terrestre.

Esta visão não deixava de ter uma certa confirmação com a realidade vivida nos dias do autor. Com efeito, vivia-se a época de Domiciano, um dos mais cruéis imperadores que Roma teve. A sua época ficou conhecida como “Era dos Mártires”, graças á terrível e sangrenta repressão praticada contra os cristãos. Morte, fome, guerra, peste eram ocorrência constantes naquela época, razão pela qual esse é um tema recorrente no Apocalipse. Por ser um tempo de terríveis aflições para os cristãos, o poder imperial de Roma é pintado como sendo a “besta dos dez cornos e quatro cabeças, que usa dez coroas e tem sobre elas títulos blasfemos” [4].

A própria Roma, na visão do autor é governada por uma “besta”, cujo número é 666. Este número corresponde, na Cabala, ao nome do Imperador romano Nero, o primeiro monarca romano a promover uma sistemática perseguição aos cristãos. Estigmatizando este imperador através deste número maligno, o autor estava, não só denunciando-o como um dos mais terríveis inimigos de Cristo, como também lançando sobre ele um sortilégio ruim, pois a sequência de seis, representava, na arte da Aritmosofia, uma série maligna [5].  É que, cerca das suas décadas antes de ser escrito o Apocalipse, as tropas romanas tinham invadido a Judeia e massacrado a maior parte dos seus habitantes. Destruíram também Jerusalém e botaram abaixo o Templo. Depois expulsaram os judeus da Palestina, dando nascimento ao episódio que na história ficou conhecido como Diáspora [6].

O autor do Apocalipse evoca estes acontecimentos e faz da sua obra um libelo acusatório contra Roma e lança uma profecia de esperança de ressurgimento do povo e do estado judeu, desta vez sob a égide da crença cristã, e governado pelos seguidores do Messias.

O Ensinamento iniciático do grau 17

A esperança messiânica foi o gancho no qual os organizadores do ritual do grau 17 ligaram as tradições judaicas referidas no Apocalipse, com os temas da Cavalaria cruzada, que aparentemente nenhuma conexão, a não ser o local onde elas nasceram, têm entre si. Todavia, como veremos nos graus superiores, especialmente os graus 28 a 32, existe uma identidade simbólica entre esses temas, que torna o catecismo maçónico um conjunto temático bastante uniforme entre si.

Desta forma, o ensinamento iniciático do grau 17 procura passar ao iniciado a ideia de que os templários, antecessores dos maçons, na verdade, são os herdeiros espirituais da tradição israelita que faz daquele povo um “grupo eleito” entre os povos da terra para guardar esta tradição. Esta tradição seria encampada pelos cruzados e defendida com unhas e dentes pelas Ordens de Cavalaria que eles fundaram para apoiar as suas pretensões. Esta ideia reflecte-se principalmente na saga dos cavaleiros templários, que se tornaram uma potência política, económica e religiosa, cujo poder desafiou a própria Igreja e por isso mesmo acabou sendo suprimida violentamente.

Desta tradição originaram-se as várias concepções que colocam os templários como herdeiros espirituais dos primeiros cristãos e detentores dos seus verdadeiros ensinamentos e segredos. Eles seriam, por emulação deste conceito, os portadores da Nova Aliança, os habitantes da Nova Jerusalém citada pelo autor do Apocalipse. Por isso encontraremos, praticamente em quase todos os graus filosóficos, referências a este tema [7].

Assim, o simbolismo do grau 17 efectua a transição entre as tradições do Velho Testamento, expresso na Lenda de Hiram, a reconstrução de Jerusalém, a filosofia das seitas judaicas, e o Novo Testamento com as doutrinas pregadas por Jesus; e a partir dessa transição integra a filosofia gnóstica e hermética, adoptada pelos cavaleiros templários na Terra Santa e repassada aos novos “cavaleiros”, que são os maçons.

João Anatalino Rodrigues

Do livro “Conhecendo a Arte Real” – Madras, 2007

[1] O Apocalipse é atribuído a São João Evangelista, o mesmo autor do Evangelho que leva o seu nome. Dificilmente porém, este autor seria o chamado “discípulo amado”, que fez parte do grupo dos doze que acompanhou Jesus no seu magistério. A diferença entre os seus escritos e os chamados “sinópticos”, evangelhos que tratam mais dos feitos de Jesus do que da sua doutrina, são patentes. O Evangelho de João e o Apocalipse são livros de clara inspiração gnóstica.

[2] Sete também são as letras que aparecem estampadas em cada um dos selos que lacram o Livro do Cordeiro. Estas letras são B,D,S,P,H,G,F. São as iniciais dos nomes dos sete querubins que guardam os sete céus da tradição gnóstica. Estes nomes e esta tradição também é referida nos ensinamentos dos graus filosóficos do Rito Escocês.

[3] Por isso a “nova tribo” que será salva depois do Juízo Final será composta de 144.000 convertidos. Este número nada mais é que o número  12 multiplicado por 12.000, inspiração tipicamente cabalística, extraída da matriz israelita dos 12 filhos de Jacob, núcleos das 12 tribos de Israel. Significa que cada tribo de Israel contribuirá com 12.000 pessoas para a Jerusalém Celeste.

[4] Dez eram as divisões territoriais que o Império Romano adoptava como províncias; quatro eram os poderes imperiais, representado pelo Imperador, o Senado, o Exército e o Corpo Judiciário; os nomes “blasfemos” eram os títulos de deuses que as autoridades supremas de Roma adoptavam  para si mesmas.

[5] Veja-se a este respeito Hugh Schonfield – A Bíblia Estava Certa – ED. Ibrasa, 1986

[6] Os judeus seriam autorizados a voltar à Palestina no começo do século II. Jerusalém foi reconstruída pelos romanos em 144 da era cristã, com o nome de Aélia Capitolina. O estado judeu, entretanto, só seria reconstituído em  1948.

[7] Especialmente a reconstrução de Jerusalém, a Jerusalém Celeste, bem como as referências á várias tradições cultivadas pelos templários, como a lenda de Bafhomet, a Escada Mística, Os Cavaleiros Teutónicos, etc.


 

Grau 16 – Príncipe de Jerusalém (REAA)



Avental do Grau 16 – Príncipe de Jerusalém

O fundamento do grau

O Príncipe de Jerusalém, título que corresponde ao grau 16 da Maçonaria do Rito Escocês, desenvolve ensinamentos que encarecem o valor da fidelidades, da coragem e do zelo. A lenda do grau refere-se às lutas que os judeus empreenderam contra os palestinos- povos que ocuparam Jerusalém e outras cidades de Israel após eles serem levados cativos para a Babilónia – e que, vendo os judeus voltarem para Jerusalém após a derrota dos caldeus frente aos persas, iniciaram contra eles uma guerra que até hoje está sendo travada.

Assim, já nesta época (Século V a. C.) uma atmosfera de conflitos, intrigas políticas, escaramuças e não raramente, verdadeiras guerras, sacudiam aquela região que os antigos israelitas chamavam de Terra Prometida.

Como já dissemos em estudos anteriores, a Maçonaria dos graus filosóficos utiliza-se fundamentalmente da metáfora da reconstrução de Jerusalém como alegoria para a sua proposta de reconstrução do carácter do homem e da sua sociedade. E em todos os graus, do 14 ao 18, iremos encontrar temas referentes á construção e reconstrução da cidade santuário, pois esta simboliza a própria humanidade nas suas ascensões e quedas. No grau 16 encontraremos as alusões aos conflitos entre os judeus repatriados da Babilónia, que comandados por Zorobabel, intentam reconstruir Jerusalém e voltar a ter nela o seu Templo e torná-la novamente a sua capital. Os povos que habitam a região vêem nisso um perigo e armam uma série de intrigas tentando atrair a ira e a desconfiança do rei persa contra os judeus.

Historicamente toda a temática do ritual do grau é fundamentada nas crónicas de Esdras e nos trabalhos de acomodação e de defesa que o rabino Zorobabel montou para defender os judeus e os trabalhos de reconstrução que estavam fazendo em Jerusalém. A Bíblia diz que eles “com uma mão operavam a trolha e na outra mantinham em guarda o escudo e a espada”. Nesta metáfora está a proposição firme de reconstruir a sua civilização destruída e defendê-la a custo da própria vida.

Encontraremos também, como destaque no ensinamento do grau o propósito de se buscar o justo equilíbrio entre os interesses que se defende e a verdadeira justiça. Esta proposição encontra fundamento na informação bíblica que diz que Zorobabel, após ter obtido o apoio do Rei Ciro para a reconstrução do Templo e das muralhas de Jerusalém, nomeou cinco dos seus melhores mestres para fazer a administração da Justiça. Esta medida foi uma grande jogada política de Zorobabel, pois acalmou o povo palestino e amainou os conflitos entre estes e os judeus, obtendo do monarca persa uma impressão favorável, o que muito contribuiu para que este tratasse os habitantes da região com simpatia. Desta forma, pode os trabalhos de reconstrução prosperar e a administração foi novamente recomposta. Aqui se reforça mais uma vez uma das vigas mestras da prática maçónica, que é tolerância.

Assim, no sexto ano do reinado do Rei Ciro, os judeus terminaram a reconstrução do seu Templo e a paz voltou àquela região.

A Bíblia fala da Nova Aliança firmada por Zorobabel e os israelitas que voltaram com ele do cativeiro da Babilónia com o Senhor. O ritual do grau 16 é uma metáfora deste novo compromisso. Em todos os sentidos esta Nova Aliança deveria ser uma reedição do pacto firmado por Moisés, com a promessa de que, doravante, o agora povo judeu(o reino de Israel desaparecera dois séculos antes destruído pelos assírios), não transgrediria as leis de Deus. Diz Esdras que

todos os que tinham discernimento deram palavra pelos seus irmãos; os seus magnates e os que vieram prometer e jurar que andariam na lei de Deus, que o Senhor tinha dado à Moisés, servo de Deus , que guardariam e observariam todos os mandamentos do Senhor Nosso Deus e as suas ordenanças e cerimónias, e que assim não daríamos nossas filhas ao povo da terra, nem tomaríamos as filhas deles para esposas dos nossos filhos”.

(Esdras, 28,30)

Nota-se, nas entrelinhas deste texto, a disposição dos judeus de conservar a pureza racial, religiosa e cultural do seu povo, evitando, a todo custo a miscigenação. A antiga ideia, que sempre esteve presente na cultura desse povo, de que Israel é uma “Confraria”, uma nação diferenciada, unida pelos laços da Irmandade, ainda sobrevivia na alma deles, mesmo depois de todas vicissitudes sofridas ao longo da sua sofrida saga. É esta disposição, aliás, em grande parte conservada até hoje, que manteve viva a comunidade de Israel por todos esses séculos, mal-grado os ataques e as tentativas de extermínio que os judeus têm sofrido ao longo da sua história.

Por isto, talvez, que a moderna Maçonaria se tenha inspirado na saga de Israel para desenvolver o seu próprio conceito de Irmandade. Nenhum outro povo jamais foi tão firme, mais fiel e mais apegado à sua tradição do que o povo de Israel. A sua conformação como povo, como comunidade e como nação, assemelha-se realmente à uma Confraria, viva onde eles viverem e seja qual for a cultura em que eles estiverem inseridos. Nem os caldeus, que os levaram cativos para a Babilónia, ou os romanos, seiscentos anos mais tarde, que os espalharam pelo mundo, ou os nazistas com a sua proposta de solução final para os que eles entendiam ser o “problema dos judeus”, conseguiram fazer com que eles deixassem de existir.

O exemplo de resistência dos judeus é a prova cabal de que a maior defesa de um povo está no respeito às suas tradições e no apego à uma crença de que existe um Ser maior que nos protege, e que a história tem um sentido escatológico que se cumpre segundo a Vontade desse Ser. E ao vivermos as nossas vitórias e derrotas, as nossas ascensões e quedas, estamos dando cumprimento a esse processo. Não precisamos sofrer por isso nem temer apocalipses futuros, pois o destino da humanidade está nas mãos de Deus e só ele sabe o que se deve fazer com ela.

Por isto, enquanto outros povos, mais fortes e mais desenvolvidos, cultural e cientificamente do que os judeus já viraram apenas referências nas páginas da História, Israel continua vivo. A sua história é um exemplo de tenacidade, resistência, esperança e fé num destino traçado pela mão de Deus, e não apenas a consequência de um materialismo histórico, governado por leis exclusivamente naturais.

Mais do que isto, a história de Israel mostra-nos que a ideia de Fraternidade, de Confraria, e “Eleição” por um poder maior, e no compartilhamento de um ideário formado de símbolos, mitos, crenças e esperanças comuns, é que fazem a força de um grupo. Israel sobreviveu a todas as tragédias que se abateu sobre o seu povo graças ao seu “kitch” cultural.

É neste simbolismo, onde se releva o valor da Fraternidade, o apego à tradição comum, o zelo pela cultura e a fé na sua crença ancestral, que a Maçonaria moderna se estriba para mostrar aos seus iniciados quais as virtudes que devem ser cultivadas pelos Irmãos.

O ritual do grau refere-se também a uma batalha que os judeus repatriados teriam travado com os samaritanos na passagem de uma ponte no Rio Tigre. Esta batalha é conhecida como a “Passagem da Ponte” e tem um valor simbólico muito importante dentro do ensinamento do grau. Significa que quando há propósito a ser cumprido toda acção é uma batalha para a conquista de uma ponte. E ela deve ser travada com coragem e confiança na vitória, pois haverá sempre um “inimigo” para nos tentar afastar dos nossos propósitos.

Os ensinamentos do grau 16 procuram pois, integrar a tradição israelita de eterna construtora e reconstrutora de um edifício que é destruído e reconstruído muitas vezes, até que atinja a sua forma perfeita (tal como o carácter do homem e a sua sociedade) com a ideia de que, para atingir esta formulação é preciso que o homem aprenda a viver em verdadeira Fraternidade, buscando a verdadeira Justiça. (…)

João Anatalino Rodrigues

Do livro – Conhecendo a Arte Real – Ed. Madras, São Paulo – 2007