domingo, 14 de novembro de 2010

O bode na maçonaria


Constantemente ouvimos falar a palavra bode, tanto no meio maçônico como fora dele e, neste último caso, inclusive em relação a pseudo característica maçônica atribuída à prática suposta de adoração ou cultuação maçônica ao hirco, cabrão ou bode, que são as mais comuns denominações do hircino (que diz respeito ao bode ou que dele emana - cheiro hircino, desagradável odor hircino) animal.
São múltiplas as expressões comuns que nos chegam aos ouvidos, dentre as quais destacamos Cuidado com o bode! Vai domar o bode?
Não vá cair do bode! Amarra direito o bode! Cuidado pro bode não te chifrar! Estas são as mais freqüentemente atribuídas ao relacionamento do maçom com a jocosidade da expressão. São expressões brasileiras  que como maçônicas não têm razão de ser.  Existem outras, de caráter genérico, como: "tá que parece um bode",  "Cara de Bode", atribuindo-se à sisudez de alguém. Outras ainda relativas à expressão "Dar o Bode", que significa dar confusão,  encrenca, desavença, problema, pandemônio, tumulto, rebuliço,  alvoroço, etc.
Aquelas expressões jocosas dão, aos leigos e néscios, uma ilusão de que  o bode constitui objeto de prática ou instrumento maçônico de culto ao demônio, diabo, arrenegado, belzebu, canhoto, cão, cão-miúdo,  cão-tinhoso, coisa, coisa-à-toa, coisa-má, coisa-ruim, condenado, cujo,  demo, diacho, dragão, excomungado, feio, indivíduo, lúcifer, maldito, mal-encarado, maligno, malvado, mau, mefistófeles, pé-de-gancho, pimenta, porco, satã, satanás, serpente, tição, tinhoso, ou seja lá que nome for, entre tantos nomes com que o vulgo, no Brasil a fora,  refere-se ao "anjo do mal ou das trevas", conforme a região, em  particular.
Nunca é demais conhecermos as razões que nos levaram a sermos  chamados "Bodes".

Antes, descrevamos o animal.
O bode é um quadrúpede ruminante cavicórneo (que têm cornos ou chifres ocos), macho da cabra, notável pelos  compridos pelos sob o  queixo, como barba ou cavanhaque e pelo seu cheiro nauseabundo.
O bode expiatório, ou mais raramente "emissário", era um bode que os antigos Hebreus espantavam para o deserto, na festa da expiação,  depois de o haverem carregado de todas as iniqüidades (crime, pecado)  e maldições que se as queriam afastar do povo. Graças a isso, o bode é  um antigo símbolo da animalidade o que no homem corresponde aos impulsos que mais se assemelham ao animal.  Seria, por analogia, que é uma energia de fundo sexual, chamada libido,e que quando, no constante conflito com o superego e o mesmo exorbita, "dá o bode".
Em virtude de ser símbolo dos atributos animais é que na Estrela de Cinco Pontas invertida, inscreve-se a figura de um bode, enquanto que  na Estrela em posição normal, inscreve-se a figura de um homem (é a  Estrela Hominal dos pitagóricos). Esta representa os atributos da alta  espiritualidade humana, enquanto que aquela simboliza os instintos animais do homem, interpretação que é adotada na simbologia maçônica.
Já o Bode-preto é uma expressão popular brasileira, usada para designar  o diabo.
Houve época em que os setores retrógrados do clero brasileiro,  explorando a ignorância e a credulidade de grande parte da população,  transmitiam aos seus fiéis, aos seus seguidores, a falsa, a irreal, maldosa, tendenciosa e malévola crença de que a Maçonaria adorava o  "bode-preto", personificação demoníaca.  Com isso, em muitas localidades brasileiras atrasadas, pouco  desenvolvidas, as pessoas, alteradas na sua normalidade religiosa,  evitavam passar diante de um Templo Maçônico e se fossem  contingenciadas a fazê-lo, além de atravessarem a rua antes e voltarem  ao trajeto inicial depois, persignava-se (benziam-se fazendo três sinais  da cruz - um na testa, outro na boca e um último no peito, na altura do   coração) e agarravam-se aos seus terços e medalhinhas. Nesses locais, os Maçons eram vistos como bruxos adoradores do  bode-preto e cuidadosamente evitados e marginalizados pelas "ovelhas"  do rebanho cristão, preocupadas em ir para o Céu e não provocar a ira do bom pároco (sacerdote encarregado da direção espiritual e da  administração de uma paróquia; vigário, prior, cura) local.  Ironizando tal situação de ignorância, atraso, incultura, obscurantismo, ingenuidade, inocência, apedeutismo e sectarismo, os Maçons passaram, jocosamente (graça, brincadeira, comicidade, hilaridade, humor,  gozação, piada, zombaria) a assumir a alcunha, apelido ou cognome de  "bode" ou "bode-preto", para si e para os seus trabalhos de Loja, prática que acabaria tornando-se enraizada no território nacional.
Trata-se, portanto, de uma autodenominação, titulação irônica e regional, a qual é desconhecida entre Maçons de outros países.  É coisa de brasileiro, com resultados aparentemente inofensivos, mas que analisados sob vários aspectos, num país eminentemente Cristão,  onde partes do Clero e de religiosos maldizem e difamam a nossa  Ordem, é de se  dispensar cuidado especial para não incorremos em situações negativas irreversíveis, pois do meu ponto de vista, somos uma organização fraterna e alegre, mas antes de tudo somos uma  entidade séria que não se deveria deixar levar por situações desta natureza.
Deixemos o bode de lado ou usemo-lo somente para um bom espeto.
Qual o verdadeiro significado do bode preto na Maçonaria? Sabemos nós maçons que se trata da mais pura crendice, não possuindo o referido animal qualquer relação com a Ordem. Portanto, não possui nenhum significado dentro da rica simbologia que nos cerca, nem tampouco é  utilizado em nossos rituais em momento algum, sendo, pois a mais pura invencionice profana, alimentada por nossa omissão e algumas vezes pelo senso de humor de alguns maçons.
Entretanto, algumas vezes indagados do porquê dessa associação bode preto - Maçonaria, nós não dispomos de uma resposta conclusiva. E quanto mais nos mergulhamos em estudar possíveis origens mais versões aparecem, algumas visivelmente inverossímeis, outras mais prováveis. Portanto, não se descarta que o mito do bode possa ter surgido com uma dessas versões e tenha ganho força com outras versões. Das pesquisas realizadas se formou o presente estudo, que não tem a pretensão de ser conclusiva mais busca dar um pouco mais de luz sobre o assunto.

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