quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Compasso

Os primeiros filósofos buscavam a arkhé, o princípio absoluto (primeiro e último) de tudo o que existe. A arkhé é o que vem e está antes de tudo, no começo e no fim de tudo, o fundamento, o fundo imortal e imutável, incorruptível de todas as coisas, que as faz surgir e as governa. É a origem, mas não como algo que ficou no passado e sim como aquilo que, aqui e agora, dá origem a tudo, perene e permanentemente.
O objetivo dos primeiro filósofos era construir uma cosmologia (explicação racional e sistemática das características do universo) que substituísse a antiga cosmogonia (explicação sobre a origem do universo baseada nos mitos). Em outras palavras, os primeiros filósofos queriam descobrir, com base na razão e não na mitologia, o princípio substancial (a arkhé) existente em todos os seres materiais. Para tanto, procuraram um princípio a partir do qual se pudesse extrair explicações para os fenômenos da natureza. Um princípio único e fundamental que permanecesse estável. Tales diz que o princípio de tudo é a água; Anaximandro, o infinito indeterminado; Anaxímenes, o ar; Heráclito, o fogo; Empédocles, os quatro elementos: terra, água, ar, fogo, em vez de uma substância única.
É de Pitágoras a ideia de que o número é o princípio ordenador de todas as coisas, os quais representam a ordem e a harmonia. Assim, a essência dos seres, teria uma estrutura matemática. Para Pitágoras, aquele que compreende todas as relações numéricas chega à essência das coisas.
Em Maçonaria o conhecimento repousa à sombra da acácia e encontra-se entre o esquadro e o compasso. O Novo Mestre parte do esquadro para o compasso encarnando Hiram. A partir deste momento ele procurará o centro do circulo misterioso onde “assenta a força desconhecida que sustém a coesão da Construção Universal”. Por outras palavras o Mestre procurará “a arkhé”
É pelo Compasso que o Companheiro é posto à prova. O Experto procura medir a sinceridade da recipiendária ao colocar o compasso aberto sobre o coração.
Em Câmara do Meio o Compasso é colocado no altar dos juramentos sobre o Esquadro, juntamente com o Livro da Lei. Como instrumento simbólico, o Compasso, reflete a medida do conhecimento e da justiça. A procura deve ser balizada pela retidão do Esquadro e pela racionalidade.
O primeiro Trabalho do mestre consiste em traçar o Circulo Eterno, “cujo centro se encontra em toda a parte e a circunferência em parte nenhuma”. Estas palavras parecem de uma profundidade insondável, no entanto para mim de uma simplicidade quase comovente. O centro do circulo é a “arkhé” que procuramos e que pode estar em toda a parte, na circunferência encontram-se os mestres. Estando na circunferência, sabemos pelos postulados euclidianos, que se encontram equidistantes ao centro, mas desconhecemos a medida da distância a que nos encontramos.
Da corda de nós ao compasso existem quantos instrumentos de medida quantos quisermos. A corda de nós mostra-se expedita para trabalho de campo, mas grosseira para o estudo e reflexão dentro de portas. O compasso é por excelência o instrumento de rigor, ajudando o mestre a encontrar, o número de vezes que cabe a sua representação da verdade na verdade que procura, determinando assim a sua razão.
A ideia de equidistância ao centro e a humildade de assumir, conscientemente, a incapacidade individual de medir a distância à “arkhé” espelha o espaço democrático e verdadeiramente igual da Câmara do Meio.
A abertura do Compasso mostra os progressos feitos no conhecimento. Em câmara do meio a sua abertura é inferior a 90º. O mestre não atingiu ainda ¼ do conhecimento.
Os VV. MM. Procuram, por via das suas diferenças e livres na sua marcha, enquadrada com o esquadro, solidariamente o giro do compasso. Quando o compasso estiver aberto a 360º traçarão o circulo de raio zero onde reside a “Arkhé” .






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