terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Mestre

O verdadeiro Mestre é discreto: indiferente às honras, ele pode aceitá-las, mas prefere esquivar-se delas. Sua ação é silenciosa, porque o verdadeiro Mestre deixa falar e contenta-se com agir; ele obra modestamente em sua esfera, sem deixar-se perturbar pela agitação dos profanos fantasiados de iniciados. Fiel a seu ideal, limita-se a viver exemplarmente. Aplica-se a bem trabalhar, por puro amor à Arte. Ele não está abandonado a si mesmo. Desconhecido pelos excitados que se debatem sob o aguilhão da cobiça egoísta, ele atrai a atenção e a simpatia dos Mestres efetivos, desconhecidos eles também: sua ajuda fraternal não lhe falta; ela se traduz numa colaboração íntima e constante, contanto que o Mestre trabalhe superiormente.
Quando se inclina sobre a Tábua de Delinear, não é o único a coordenar o plano segundo o qual se deve construir o amanhã. Se está, então, lúcido, não é credor da colaboração de inteligências liberadas do corpo? Sem cair nas puerilidades do espiritismo invocador de fantasmas, é-lhe permitido considerar que nada se perde no domínio das idéias. O pensamento vital permanece vivendo, independente de cérebros que vibrem sob sua ação. Inacessível em sua sutileza transcendente, ele se particulariza, se condensa e se coagula ao apelo dos pensadores; meditando, atraímo-lo para nós, emprestando-lhe uma forma expressiva: tal é o trabalho sobre a Tábua de Delinear.
E assim, se nada se perde no domínio das idéias, resta-nos trabalhar, confiantes na permanência de uma Tradição da qual somos herdeiros, sem nos esquecer, todavia, de que esta tradição não nos pertence, e apenas nos cabe conservá-la em sua mais pura essência, a fim de entregá-la, depois, aos nossos sucessores.

Oswald Wirth

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