domingo, 12 de junho de 2011

A PROFANA QUE SABIA TUDO.

Madalena estava encolhidinha no sofá com um olho na televisão, com a novela preferida, e outro no caderno que ia enchendo de números e de contas.

Num intervalo comercial, virou para o marido e sentenciou:

-Anderson, pode ir preparando um maço de notas porque o gasto será enorme.

Ele estava numa poltrona, tentando decifrar as análises de economia do caderno de finanças do jornal. Bastante compenetrado naqueles assuntos, resmungou:

-Hã?!? Maço?!?

-É Anderson!! Maço! Grana!

Então ele tirou os óculos, deixou o jornal de lado e informou:

-Por falar em maço, quero te contar que fui proposto para entrar na Maçonaria.

-Maçonaria, o que é isso?

-Bem...

-Depois você explica; agora vou assistir minha novela.

Na verdade, Madalena agora voltou a se concentrar mais em suas contas.Até então, ela nunca  dependeu do salário marido, viajante comercial, pois possuía uma pequena loja de peças bordadas e tricotadas, que, aliás, situava-se em uma rua com o nome bem sugestivo: Independência.

Porém, os negócios começaram a declinar e Madalena, então, resolveu liquidar todo o estoque e fechar o estabelecimento. Com uma nova pintura e a colocação de novas luminárias, poderia alugar o prédio e ainda apanhar um alto valor a título de luvas.

As contas que ela fazia se referiam à realização de seus sonhos: a aquisição do lava-louças, do novo limpador a vapor e das tintas e das novas luminárias do prédio a ser alugado.

Dois dias depois, um sindicante da maçonaria bateu à sua porta:

-Dona Madalena?

-Sim...

-Bom dia, meu nome é Josias e sou das Grandes Lojas...

-Pois não, vamos entrar.... - ordenou Madalena, bastante feliz, supondo que estava recebendo o encarregado do crediário da Loja de eletrodomésticos.

Era evidente que seu marido já providenciara a compra de seus sonhos.

Já sentados na sala, Josias continuou:

-O seu marido já foi aprovado em nossa Loja , porém eu tenho aqui ainda um papel a preencher...

-Mas é claro que ele seria aprovado: ele sempre foi de bons costumes, limpo e puro...

-O que a senhora acha de nossa Instituição?

-Para falar a verdade, eu ainda não ouvi falar dessa Loja. Tem muita gente lá?

-Bem, ainda estamos começando. Temos só dois anos; mas iremos crescer bastante, pois trabalhamos com respeito, disciplina e ordem.

A senhora concorda com a entrada do seu marido?

-Claro! - respondeu a esposa, rapidamente, imaginando que Anderson havia pago uma alta soma de entrada para as prestações ficarem mais acessíveis.

-Claro que concordo! Depois dessa, eu estou achando que ele irá ficar nem nu nem vestido. Mas é o início de uma nova vida!

-Vê-se que a senhora está sabendo de tudo.

-É que ele deixou em minha bolsa muitas propostas e informações.

-Puxa!

-Quanto que terá de pagar por mês?

-Mais ou menos em torno de cinqüenta reais.

-Só isso? Ótimo! Bem, dentro de pouco tempo ele irá até lá, receberá as luzes e depois vocês entregarão o restante, não é isso?

-Sim, é realmente dessa maneira.

-Mas antes disso, ele ainda fará três rápidas viagens.

-Até parece que a senhora pertence a uma Loja!

-O senhor conheceu aquela loja com o nome "Comércio e Artes"?

Josias lembrou-se da famosa Oficina dirigida por Gonçalves Ledo, onde realizou-se o maior feito da Maçonaria no Brasil:

-Aquela da Independência?

-Isso mesmo. Pensei bastante, mas não deu certo...

O sindicante, de boca aberta, começou a fazer anotações em seus papéis.

Em dado momento, Madalena o interrompeu:

-O senhor pode escrever aí também o salário do Anderson será elevado logo, logo!

-A senhora é bastante otimista....

-Bota otimismo aí. E eu ainda estou na expectativa de receber minhas luvas.

Em sua Loja , na Ordem do Dia, Josias começou a prestar contas de seu trabalho:

-Venerável Mestre, Luzes e meus Irmãos: proponho sejam iniciados em nossos augustos mistérios os profanos Anderson e sua esposa.

Autor:
Irmão Ari Casarini de Carvalho

Enviado pelo Mano Alexandre Braun.

Um comentário:

  1. Cada dia que passa as esposas estão mais inteiradas dos nossos acontecimentos, acredito que seja reflexo da midia, alias nossa ordem não é secreta e sim discreta.

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